Crush, Contatinho e as Novas Patentes do Amor

Além de ter nascido nos anos 80, eu ainda venho de uma cidade pequena, o que me atrasou mentalmente em uns 10 anos em relação ao que é in ou out em Sampa. Naquela época (frase de velho mesmo, arg), o debate moral era: namorar versus ficar. A escala amorosa dava-se assim: colega < amiga < paquera < namorada < noiva < esposa.

Minha teoria é que a cada quatro anos tem Olimpíada e nasce também um novo estágio entre estar single e casada, havendo de se tornar uma jornada de um milhão de passos muito em breve.  Eu já não consigo acompanhar!

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Não te parece estranho que uma menina tão jovem, bonita, riquinha (olha o quarto) vire piada nacional por correr atrás de homem?

Até o fechamento deste post , a escala estava assim: desconhecida < crush < contatinho < esquema < lance < peguete < ficante < ficante sério < ficante exclusivo < namoro suave < namoro < namoro sério < namoridX < noivX < casados  < bodas de alguma coisa < renovação dos votos < bodas de outra coisa. Ufa, tá cada vez mais difícil pra chegar ao dito “éden”.

A minha primeira leitura foi de que é algo de cunho bem machista: criam-se mais desculpas para o sexo casual com mais distância de qualquer compromisso. Daí, percebo, que eu também estou com um pé no machismo; que, talvez nenhum dos sexos/gêneros realmente queiram estabelecer vínculos. O amor líquido.

Será que o amor mudou tanto? Nos anos 70, nós já questionamos a moral e a fidelidade, qualquer coisa que veio depois é, usando uma gíria da época, careta. O vínculos sim, são cada vez mais frágeis, mas, a urgência de quem ama é a mesma desde Adão e Eva. Todo mundo é moderninho e descolado até o Crush finalmente notar você.

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Na minha cabeça de tiazona do pavê não entra como alguém foge de namoro: se tem coisa melhor que isso, deus guardou para ele. A intimidade, o sexo, as conversas na madrugada: é nos braços do outro, na segurança do amor que descobrimos muito mais sobre nós. Há o “nós”, e sobretudo, ainda há o “eu”. Minha modesta e lírica opinião.

Casamento já é sociedade civil. Tudo vira um emaranhado de “nós” e os nós ficam mais apertados. O segredo de um bom casamento deve estar justamente aí, em equalizar esses dois mundos. Saber onde parar a intimidade e o poder. Não somente no discurso da sala de jantar pros amigos solteiros: é de verdade, na prática.

Noivado é o estágio Cinderela que só acomete as mulheres. Os homens pensam em coisas fúteis como onde vamos morar e como vamos nos sustentar. Nós, pensamos no vestido e na festa, coisa séria. Talvez, este seja o motivo pelo qual, estatisticamente falando, mulheres pedem mais o divórcio que os homens. Eles pensaram em uma vida conosco. Nós, pensamos no caminho que nos levará ao “felizes para sempre” com qualquer um. As fábulas param aí. A nossa ideia de arquitetura amorosa acaba aí.

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Se tenho ciúme do crush, tenho vínculo?

E, nessa estrada, cada vez mais alongada, precária e pedagiada (uma rodovia da morte versão sentimental) é que estamos a competir: com o parceiro, com outras mulheres, consigo mesmas. A cada minuto fica mais difícil seguir em frente. Surgem sempre novas curvas: são as novíssimas patentes amorosas.

Cada nova patente é um grau a mais de separação entre você e o seu ideal amoroso, seja ele qual for.  São criações espontâneas de gente bem perdida que não sabe ficar só porque tem medo de si mesmo e também não sabe se vincular porque tem medo de que poderia ser/sentir. É fruto da covardia, mirando no imediatismo. Prazer agora.

É consumismo, versão amor.

E a gente segue aceitando, porque quanto maior a dança, menos teremos que lidar com o par quando a música acaba. E a vida, finalmente começa. Porque, no fundo, também não sabemos o quanto podemos suportar de realidade.

A cada degrau acima, eu deveria comemorar? Deveria ficar contentinha feito pulga no tapete porque o crush me passou o zapzap e agora eu sou uma, das 546 contatinhas? Tenho que mandar nudes pra ter vantagem sobre as outras? E essas outras são TUDO piranha? Isso é evolução feminista? É esmola. Inclusive, quando é feito no sentido contrário, porque homem também é oprimido.

A mulherada veste a carapaça de ferro e diz que também esta aí, na pista e aberta pra qualquer negócio. Mas, a noite, elas choram no meu colo, porquê são meninas criadas pelas princesas da Disney. Elas rebolaram na boquinha da garrafa aos 6 anos sem saber direito do que se tratava, mas, suas Barbies sempre casavam. Afinal, o que serão de Barbies solteiras? Elas terão espaço na sociedade?

 

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